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Tédio ou Ócio criativo?

A gente se acostumou a estar sempre fazendo algo, a ponto de inconscientemente criar um repúdio ao “não fazer nada”, esse nosso repúdio interno muitas vezes é projetado sobre as crianças e adolescentes que estão a nossa volta e acabamos com uma dádiva humana que é o ato de “parar para pensar”.

Temos a possibilidade de parar para pensar pois nossos ancestrais evoluíram, criaram ferramentas e hábitos que nos permitiram usar o tempo para pensar em outras coisas além da sobrevivência, nos permitiram sermos criativos e criar cada vez mais ferramentas e cada vez entender mais a nós mesmos.

O pensamento criativo exige esse tempo, que Domenico de Masi chamou de “ócio criativo”, um tempo dedicado a incubação da ideia, ideia que surge da mistura do nosso repertório de conhecimentos conceituais e empíricos com a nossa imaginação para a resolução de um problema ou desenvolvimento de uma vontade interna.

Esse tempo precisa ser respeitado, mas temos dificuldade de respeitá-lo porque temos aquele repúdio interno ao ócio, ao “não fazer nada”. Os valores criados na revolução industrial, principalmente velocidade, produção e organização, ajudaram a sustentar esse nosso desconforto com o ócio.

É importante estar atento a diferença entre o ócio criativo e o tédio, o tédio acontece quando uma criança está desconectada da sua vontade interna e quando o ambiente onde ela habita não é emocionalmente seguro para que ela se desenvolva com confiança, isso acontece pelo excesso de direcionamento e informação que chegam as crianças, fazendo com que elas se desconectem-se de si mesmas. Quando tiramos esses excessos (como nesse período sem escola presencial) ela não está mais acostumada a se desenvolver por conta própria, não está acostumada a se deslocar entre períodos de exploração, criação, imaginação e ócio, então fica entediada.

Precisamos resgatar o pensamento criativo e torná-lo parte da cultura dos espaços educativos, nos observarmos enquanto adultos e criar ambientes para isso acontecer, isso exige dentre muitas outras coisas, ressignificar esse repúdio ao ócio.