Uma das coisas que eu mais amo em trabalhar com educação em ambientes de liberdade é observar os caminhos sinuosos que as crianças percorrem na construção do seu aprendizado.
Situações que a primeira vista parecem ilógicas, desorganizadas e multifocais (adjetivos bem próprios para o cérebro em desenvolvimento da criança), resultam em experiências de aprendizagem muito proveitosas. Nós adultos, com nossa mente lógica, ordenada e linear na maioria das vezes atropelamos e interrompemos essa caminhada sinuosa de desenvolvimento.
Certa vez uma criança me pediu para ensinar ela a usar a máquina de costura, queria costurar uma roupa para sua boneca, como ela nunca havia utilizado a máquina sugeri que começasse treinando um pouco com um pedaço de papel eu fiquei ao lado orientando os passou para utilizar a ferramenta.
Escolheu a linha, passou pelo caminho indicado, atravessou o furo da agulha, abaixou a mesinha, escolheu o tipo de ponto e finalmente pisou no pedal. Pisou um pouquinho e viu o papel avançar. Pisou mais um pouco e foi aprendendo a controlar a direção da costura sem deixar os dedos perto da agulha. Fez uma linha reta e parou. Virou o papel 90º e continuou costurando. Fez isso mais duas vezes e criou um retângulo. Tirou da máquina aquele papel pardo com costura retangular feita de linha azul em zigue-zague e achou um máximo.
– Vou fazer um quadro! Me disse.
– E a roupa da boneca? Perguntei.
– Agora eu já sei usar a máquina, outra hora eu faço.
Quantas vezes nosso pensamento pragmático julga como errado essas escolhas da criança e acaba barrando seus movimentos, direcionando para que persistam nas suas ideias iniciais, no plano pré-determinado e para cumprir os objetivos pré-estabelecidos. É sair do ponto A e chegar ao ponto B, o mais rápido e sem distrações possível. Não considerando o que há de mais valioso para o bom desempenho do aprendizado: A motivação e o interesse individual.
A mente da criança faz escolhas aparentemente ilógicas, que na verdade estão alinhadas a lógica individual do seu sentir, do seu interesse, daquilo que faz sentido no momento presente. Justamente por permitir estar alinhado seu sentir, pensar e fazer é que a aprendizagem é tão natural, acontece sem esforço. Não é linear, nem previsível, é sinuosa e cheia de surpresas.
Por isso respeitar e confiar nesse caminho é o que torna a aprendizagem autodirigida tão eficiente e emocionante.
