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A organização criativa da infância é brilhante

cheerful group of teenagers using laptop

Ao pensarmos em metodologia de projetos, como o design thinking, recorremos ao estudo dos grandes inventores e criativos da humanidade, desde a antiguidade até as modernas startups do Vale do Silício. Eu acredito que também seja muito produtivo observar os grandes inventores dos jardins de infância.

Há 10 anos quando conheci essas metodologias fiquei fascinado por haver um estudo sobre os princípios de como transformar uma ideia em um produto ou serviço viável. Um caminho entre o mundo das ideias e o mundo material.

Justamente por dominar tais abordagens fui convidado a levar essa habilidade a um grupo de pesquisa que trabalhava com aprendizagem baseada em projetos e robótica, foi então que adentrei no estudo do desenvolvimento infantil e tudo foi se encaixando como num quebra-cabeças, teorias da aprendizagem, da educação, de projetos e de criatividade. Difícil era encaixar aquilo tudo na estrutura super controladora da escola.

Aos poucos fui percebendo que a busca pelo “controle da situação” era justamente o que bloqueava o fluxo criativo.

Comecei a observar os diálogos das crianças e adolescentes com mais ou menos direcionamento e entender as reações e respostas deles em 3 cenários diferentes:

  • Quando tinham um passo-a-passo para resolver um problema;
  • Quando podiam buscar por conta própria como resolver um problema proposto;
  • Quando podiam escolher o que fazer e assim quais problemas iriam resolver.

O resultado: quanto mais liberdade de escolha eles tinham, mais engajamento eles apresentavam, buscavam mais apoio dos educadores, pesquisaram mais, experimentavam mais, mais criativas eram suas soluções e por consequência mais eles aprendiam. Isso se ampliou ainda mais quando retiramos a avaliação do sistema, permitindo que eles mesmos avaliassem entre si se suas ideias eram boas e o que poderiam melhorar, somente se quisessem.

Agora, o mais impressionante para mim foi que, ao parar de ditar e organizar o passo-a-passo para desenvolver um projeto, os grupos (mesmo sem conhecer a metodologia) se organizavam de uma forma muito semelhante ao esqueleto proposto. Pensavam e refletiam sobre o que gostariam de fazer, pesquisavam e entendiam sobre os problemas que enfrentariam para resolver, se reuniam para dar palpites e construir em brainstorm, desenhavam e faziam pré-montagens das ideias, testavam muitas vezes e adaptavam seus protótipos evoluindo cada vez mais suas ideias.

Hoje compreendo o quanto essa metologia se assemelha a organização das brincadeiras em grupo. Sempre há um gatilho inicial como “vamos brincar de lego?” e começa o projeto.
Pesquisam inspirações, trazem hipóteses, entendem o que conseguem fazer com aquelas peças, começam a construir, cada um dá seus palpites e adiciona as peças que acha necessário, vão experimentando e entendendo o que dá certo ou não, fazem ajustes, testam e por fim apresentam sua obra prima. É assim com todas as brincadeiras coletivas que não são direcionadas por um adulto. A organização criativa da infância é tão genial quanto as mais inovadoras técnicas de inovação.

Permitir as crianças tempo, espaço e matéria para criarem coletivamente nos pouparia muito tempo tentando aprender sobre metodologia de projetos na graduação ou no trabalho.

Nossa convivência social na infância permite desenvolver essa habilidade criativa, infelizmente o excesso de direcionamento da atenção e das atividades enfraquece essa habilidade e nos faz sentir incapazes de fazer sem que alguém nos mande fazer, além de limitar nossa capacidade de encontrar soluções alternativas para os problemas. O que cria a necessidade de reaprender essa habilidade com as metodologias de projetos.

Deixemos as crianças criativas.