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A organização de uma escola sem grades

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Como se organiza uma escola sem grades curriculares? Sem planos de aula? Sem metas de conteúdo apresentado? Sem avaliações programadas? E mais, é possível organizar uma escola assim?

Essa é uma grande dúvida que recebo de educadores e gestores escolares, de um lado estão os que reconhecem que a sobrecarga de controle não favorece o aprendizado mas também temem aumentar a liberdade individual dos aprendizes e criar um caos improdutivo. Por outro lado estão os educadores que já estão transformando seus espaços ou criando novas escolas com estruturas mais abertas, estes tentem num primeiro momento a ausência de organização, com a intenção de ‘fluir conforme a vida’ e com medo de, ao estabelecer certos contornos, regredir para o sistema escolar convencional.

Como encontrar o equilíbrio entre o controle e o abandono?

Para responder essa pergunta é preciso estar atento ao foco do espaço educativo, que deve ser a valorização do processo de aprendizagem de cada indivíduo, e identificar constantemente se nossas ações e decisões estão favorecendo esse objetivo.

Por exemplo: Se não há nenhum limite sobre horário de entrada e saída das crianças no espaço é provável que cada família leve seus filhos no horário que mais lhe convém, isso é ótimo para as famílias, mas vai demandar que em muitos momentos um educador vá receber ou levar uma criança ou que interrompa as atividades das próprias crianças indefinidamente, a consequência dessa ausência de contorno prejudica muito o foco no processo de aprendizagem. Quando estabelecemos que as crianças podem entrar de 8h até às 8h30 e podem sair de 11h45 até às 12h15 temos clareza de que nesses momentos vamos nos dividir entre atender as crianças e as famílias na porta, no intervalo entre eles vamos nos dedicar exclusivamente aos processos internos, criamos um limite que favorece nosso foco em acompanhar e atender o aprendizado.

Isso se aplica as regras de como utilizar os materiais e os espaços, que atividades são proibidas, que alimentos são permitidos, qual o envolvimento esperado da família, que encontros são obrigatórios.

💡 Uma boa organização na matéria combinada a clareza dos limites nos permite ter mais tempo e energia para atender demandas mais complexas, profundas e individuais, fazer educação de verdade.

Por outro lado, podemos querer controlar diversas ações que não vão de fato favorecer o aprendizado, por exemplo se a criança senta com as pernas cruzadas ou com as pernas retas na cadeira ou até se prefere realizar suas atividades em pé na frente da mesa, estabelecer como a criança vai se sentar não influencia positivamente o aprendizado dela, são regras conectadas ao nosso capricho controlador, desde que não invada o espaço do outro, não se coloque em risco e não atrapalhe o coletivo, permita cada um sentar da forma que se sinta confortável, se sentir bem é que vai favorecer o desenvolvimento cognitivo. Esse é um exemplo, mas acredito que deu pra entender o princípio.

Agora, quais fatores identificam que esse equilíbrio, entre o controle e o abandono, está acontecendo no nosso espaço?

Depois de passar por diversos espaços em transição percebi um movimento muito interessante, que julgo ser o ponto chave para reconhecer que aquele espaço está vivendo uma liberdade harmônica, é o ponto em que as crianças desprendem sua energia para atividades criativas: correm, inventam brincadeiras, utilizam os materiais, desenham, pintam, escrevem, leem, exploram, experimentam, perguntam, conversam e até entram em conflito.

Quando estão nos extremos, sendo muito controladas ou abandonadas, ficam apáticas, com medo, sensíveis e desenvolvem relações agressivas, gastam sua energia implicando com seus pares, tentando burlar os limites, danificando a matéria. Em um ambiente desequilibrado, é difícil se conectar ao seu centro e ouvir seu impulso interno.

Voltando às questões do início do texto, para organizar uma escola sem grades, é preciso compreender que regras são necessárias para favorecer um ambiente seguro para a liberdade harmônica aflorar, onde cada um está conectado aos seus interesses, desenvolvendo suas habilidades e aprendendo a partir das suas ações. Não existem normas preestabelecidas porquê cada escola é única, mas é totalmente possível desenvolver essa organização em qualquer espaço.