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Estado de silêncio, presença e observação

imagem de dois educadores sentados observando um lago
É possível aprendê-lo, treiná-lo e aprimorá-lo?

Dentro da Educação Viva e Consciente sempre se aborda a importância de estar com as crianças em um estado de silêncio, presença e observação.

Silenciar é o primeiro passo, silêncio oral mas também silêncio mental. É preciso um ambiente silencioso para permitir ouvir nossa ‘voz interna’ e também permitir que a ‘voz interna’ dos aprendizes se expresse.

O silêncio mental nos permite estar realmente presentes, não pensar no que há para ser feito no futuro e nem no que já foi feito no passado. Estar no aqui e agora. Presenciar os fatos sem buscar relação com o que está por vir (criando expectativas e ansiedade) e nem com o que poderia ser baseado no que já passou (gerando exigência e decepção).

É em silêncio e na presença que se pode observar de fato o que está acontecendo. Observar as necessidades reais dos aprendizes, seus interesses pulsando, as oportunidades de aprimorar a experiência de aprendizagem, poder relacionar-se verdadeiramente a partir deste vazio (de barulho, julgamentos, avaliações, expectativas, exigências, teorias), esse vazio que paradoxalmente permite relacionar-se com inteireza.

Eu acreditava que esse ‘estado de espirito’ do educador dependia muito da sua personalidade, portanto que somente algumas pessoas teriam aptidão para serem educadores conscientes. Isso mudou a primeira vez que estive em um encontro da Rede, entrei em uma sala com diversos educadores conversando em roda, algumas crianças no colo, outras sentadas escutando, outras brincando na sala ao lado, papo vai papo vem eis que uma criança entra correndo na sala, tropeça nos sapatos na porta e cai no chão.

Silêncio, todos olham para ela, sua mãe levanta e pergunta se está tudo bem, ela levanta e acena que mais ou menos com a cabeça, vai até a mãe e senta entre suas pernas, ela verifica que está tudo bem e o papo retorna.

Eu fiquei chocado pois nunca havia presenciado uma criança cair diante de adultos (ainda mais profissionais do cuidado da criança) e não haver aquela reação normal entre o “não foi nada” e o “tadinho caiu”. As necessidades da criança foram atendidas de forma tão natural que acreditei estar entre seres evoluídos, aqueles que se iluminaram e alcançaram o verdadeiro estado de silêncio, presença e observação.

Mas aí veio o almoço, saímos da sala e vi um grupo muito heterogêneo, alguns mais introvertidos, outros falantes e super ativos. Ainda assim havia uma ressonância de todos nos momentos de relação com as crianças, como se a personalidade existisse não por entre a relação, mas ao lado. Posso ser falante mas quando uma criança falo me exercito para permitir que minha voz não abafe a dela, posso ser multitarefas mas quando estou com as crianças exercito minha presença no aqui e agora, busco estar por inteiro.

Existem diversas técnicas para aprender, exercitar e aprimorar esse estado. Mas o mais importante é ter consciência de que ele independe da personalidade do indivíduo, é um condicionamento mental que funciona como um condicionamento físico, músculos precisam de exercícios consistentes para se desenvolverem além do comum, nossa mente também.