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Reconhecimento ou Transbordamento?

Tenho acompanhado muitos adultos dedicados a educar seus filhos ou alunos de uma forma mais respeitosa a que eles mesmos foram educados, é o meu caso também.

Há tempos identifiquei um comportamento destes adultos, que em busca de uma relação mais saudável com as crianças, acabam por criar uma dependência e uma ilusão de aprendizado e desenvolvimento.

É o que eu estou chamando de “transbordar” a criança. Esse transbordamento pode acontecer de diversas maneiras, com objetivos físicos, com elogios vazios, com explicações desconectadas da realidade e principalmente com a terceirização da resolução dos problemas.

Já observei criança que acreditava ser uma ótima jogadora de futebol pois tinha ganhado chuteiras profissionais, outra que sentia saber cozinhar muito bem porquê tinha feito bolo com a sua vó e uma terceira que sempre me falava das coisas que sabia construir com madeira porquê havia visto vídeos na internet de faça-você-mesmo.

É super saudável que a criança sinta que sabe fazer mais do que realmente sabe, isso movimenta seu processo de aprendizagem para cada vez mais se aprimorar naquilo que lhe interessa.

O problema está quando nós adultos AUMENTAMOS esse sentimento. Com a boa intenção de ajudar naquilo que a criança gosta, de fazer junto e sermos legais com ela, nós transbordamos a vida dela com objetos, explicações, elogios e resoluções.

Existe uma diferença entre reconhecimento e transbordamento. Quando a criança é reconhecida sua autoestima vai se fortalecendo, isso ajuda ela a perceber quem ela é-sabe-faz. Transbordar é depositar sobre a criança mais do que ela é-sabe-faz, é sobrecarga e a consequência disso é que quando confrontada com a realidade a criança tem mais dificuldade de enfrentar frustrações, de fazer por conta própria e de ter suas próprias ideias de resolução de problemas.

Enquanto adultos, podemos ser apoio para a realização da criança, mas não realizar por ela. Se ela gosta de futebol podemos dar as ferramentas pra ela e apoiá-la no seu interesse sem depositar sobre ela um rótulo, se a criança quer fazer um bolo com você pode fazer, mas não podemos enganá-la dizendo que ela fez o bolo sozinha, se ela aprendeu algo na internet ok, mas dê a ela espaço para experimentar fazer, errar e aprender.

Na busca por “fazer aquilo que não fizeram por nós”, acabamos por exagerar e transbordamos por cima da criança. É como uma régua que vai da negação ao transbordamento, estes extremos são danosos, no meio está o reconhecimento da realidade e é este equilíbrio que temos que buscar.