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Reinventar a infância

A proximidade com o dia das crianças e a leitura do livro “A criança” de Maria Montessori estão me fazendo refletir sobre o conceito de infância.

Observando atentamente a postura das escolas convencionais, das instituições governamentais e religiosas durante as homenagens e celebrações às crianças, posso identificar diversos aspectos do inconsciente coletivo do conceito de infância, de como os seres que estão nessa fase da vida são compreendidos.

A criança é dócil, amável, pura. Deve ser respeitada, amada e educada. São presenteadas com brinquedos, doces e festividades. Ao menos é esta a imagem que temos da infância quando vemos os comunicados dos dias das crianças.

Montessori fala no seu livro que na virada do século, diversas lideranças políticas e científicas proclamaram os anos 1900 como “o século da criança”, devido ao progresso das pesquisas e experiências que apontavam para a influência da qualidade de vida da infância na saúde e bom desenvolvimento para o resto da vida.

Foi uma época de transformação do conceito da infância, a criança que antes era tratada como um adulto incapaz e incompleto, praticamente um estorvo na vida da família, passa a ser visto como um ser que necessita de tratamento especial, cuidados próprios a sua condição, materiais e ambientes preparados a sua capacidade e voltados ao seu desenvolvimento.

Ainda que necessitasse de cuidados especiais a sua condição, Montessori sempre apontou para a capacidade natural da criança de desenvolver-se, lembrando sempre que quando a criança recebe tudo em mãos, esse tratamento inibe o seu instinto de movimentar-se e assim atrapalha o seu desenvolvimento.

Voltando ao presente, percebo que o conceito de infância se transformou, de uma visão mais dura e violenta para uma visão mais respeitosa e amável, o que me intriga é que a confiança na potência da criança ainda não é amplamente aceita.

Nós respeitamos e amamos as crianças, mas ainda duvidamos da sua capacidade de desenvolver-se, a prova disso é que mais de cem anos se passaram e seguimos com o mesmo modelo escolar, focado no super-direcionamento, no controle e na avaliação.

Para reinventar a escola é preciso reinventar a infância.

Te convido a um exercício neste dia das crianças, experimente estar com crianças intervindo o mínimo possível nas suas atividades, interesses e atenção. Caso a criança que esteja com você já esteja “contaminada” com o super-direcionamento dos adultos e não consiga escolher o que fazer, aproveite para ter um momento de “detox”, confie que ela é capaz e devolva a ela a permissão de escolher o que fazer com o seu tempo de infância.

Observe como ela faz suas decisões, como resolve seus problemas, como ela cria suas atividades, como ela observa e explora o mundo enfim, como ela aprende e se desenvolve. Ao final do dia, escreva sua definição para a palavra “criança”.

Ao longo da história, referências de diversas áreas do conhecimento nos orientaram a observar as crianças, acredito eu que muitas vezes nós as observamos em comparação ao que somos e assim, vemos nelas aquilo que falta se desenvolver, meu convite é que nós a observemos buscando ver o que são e o que fazem, talvez as comparando ao que eram nos minutos anteriores, assim veremos toda a potência evolutiva desta fase da vida.