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Tempo industrial x Tempo natural

Você também está frustrado com o sistema educacional?
Consegue identificar o que causa a sua frustração?

Passei algum tempo pensando qual era o ponto central dessa sensação de “não fazer sentido” no modelo escolar atual e acredito que a fonte dessa e de muitas outras infelicidades seja a crença de que podemos aplicar os conceitos de produtividade industrial em um contexto de aprendizagem.

Como sentir-se frustrado com o desempenho do aprendizado parecer ser algo comum desde o início da escolarização moderna, são muitas também as tentativas de concertar esse sistema, mas aparentemente a esmagadora maioria foca em aplicar conceitos industriais e empresariais, buscando melhorar a produtividade da escola adicionam competitividade, recompensas, padronização, repetibilidade, automação e progressão linear.

Mas produzir conhecimento é muito diferente de manufaturar um objeto.

Nosso erro é acreditar que podemos aumentar o ritmo do aprendizado assim como fazemos com o ritmo da produção. Produzir algo está diretamente ligado a nossa capacidade tecnológica, que de fato tem evoluído exponencialmente no último século, produzimos mais, mais rápido e com menos mão de obra. Mas a educação está ligada com processos que independem dos nossos aparatos tecnológicos, educar-se, aprender algo, absorver um conceito, desenvolver uma habilidade, ser capaz de utilizar informação e matéria são atividades que necessitam de uma atenção e uma conexão com nossa parte mais animal, que tem seus próprio tempo e modos para acontecer.

Aumentamos o número de crianças por educador.
Aumentamos o número de conteúdos por criança.
Aumentamos o número de atividades por conteúdo.
Aumentamos o número de materiais didáticos por atividade.
Aumentamos o número de horas por dia na escola, de dias na escola por ano, de anos de escola por vida.

Fazemos tudo isso na tentativa de melhorar a educação, mas não conseguimos.
Porquê essas abordagens estão focadas na instrução, não no aprendizado.
Fazer mais atividades, exercitar-se mais, estar mais ocupado não necessariamente vai gerar mais aprendizado.

É nessa contradição que está a raiz de muita frustração com o sistema escolar, toda nossa vida foi acelerada, otimizada e aperfeiçoada pela evolução tecnológica, mas não conseguimos fazer isso com a aprendizagem, porquê ela segue o seu tempo natural.

Sendo assim, fazer uma educação mais conectada com a vida é, além de respeitar a individualidade e os processos naturais, fazer uma educação que entenda o ritmo e modos próprios do aprendizado humano, que estão intrinsecamente conectados aos seus interesses e necessidades únicas, buscar abordagens que otimizem a aprendizagem.

Estas abordagens podem sim se beneficiar de aparatos tecnológicos, desde que não tenham como objetivo o instrucionalismo vazio, de fato observamos que quando há liberdade, respeito e autonomia, a criança aprende melhor com menos instrução.

Se há um tempo que precisa ser aumentado na escola, é o tempo das atividades autodirigidas, possibilitar as crianças tempo livre de atividades direcionadas pelos adultos, deixar que elas escolham o que fazer, que tenham disponíveis materiais para explorar e criar, que tenham adultos disponíveis para apoiar quando precisarem, que sejam autorizadas a não produzir nada se não quiserem ou realizarem atividades vistas como banais com a nossa confiança de que são importantes para o desenvolvimento delas.

Em resumo, permitir as crianças o tempo natural de ser criança, sem a necessidade de estar em constante treinamento para ser um adulto.